"Não pode o homem ter mais que certo número de dentes,
cabelos e ideias. Tempo vem em que inevitavelmente perde os dentes, os cabelos
e as ideias". (Voltaire)
Na mais próspera e
estável democracia da história moderna, quem perde uma eleição presidencial
entende o recado: segue na vida partidária, como congressista, mas abre mão do
sonho pessoal de residir no número 1600
da Pennsylvania Avenue.
Foi o que fizeram George
McGovern, Walter Mondale e Michael Dukakis. Tradição também seguida por Bob
Dole, Al Gore, John Kerry e John McCain. Espera-se o mesmo de Mitt Romney.
Para além da
intenção genuína de querer ver o partido chegar ao poder – ou nele manter-se –, o
sujeito entende o recado das urnas de primeira também - e, talvez,
principalmente- para evitar um desgaste pessoal: não há espaço, na democracia
americana, para presidenciáveis profissionais. Ross Perot, o milionário excêntrico que concorreu como independente, tornou-se
motivo de piada entre os eleitores em 1996, quando insistiu – na primeira, em
1992, até respeitaram sua intenção.
Por aqui, não.
Claro que não. Por aqui há uma espécie de caudilhismo eleitoral, com perdedores
querendo eternizar-se na cédula para todo o sempre, na esperança de que, mesmo
eles sendo os mesmos, o povo um dia mude de ideia. Não dá pra dizer que é uma
jabuticaba – a coisa se repete em recantos latino-americanos. Mas aqui é moda
desde os primórdios da República.
Ruy Barbosa
insistiu em 1910 e 1919 – nunca levou. O
mesmo destino tiveram Eduardo Gomes e Ademar de Barros. Com o fim do regime
militar, a lista de insistentes fracassados incluiu Leonel Brizola, Enéas
Carneiro, Ciro Gomes e José Serra. Salvo engano, a tática de vencer o eleitor
pela insistência só deu certo três vezes: com Prudente de Moraes, que tentou em
1891 e levou em 1894, Afonso Pena, que tentou em 1894 e levou em 1906, e com Lula
– o único a tentar por quatro vezes.
Nos Estados Unidos da América espera-se que
um político preparado a ponto de candidatar-se presidente, após ter sido
rejeitado pelas urnas, use sua imensa capacidade a serviço do país – no partido,
no Congresso, em alguma entidade ou instituto. O que não se aceita é que ele se
torne um desocupado a perambular pela nação, tentando derrubar seus prováveis sucessores.
Eu diria que é o pragmatismo yankee
estimulando a vergonha na cara.
Por aqui, não. Por
aqui José Serra tenta forçar seu terceiro fracasso sem que ninguém – imprensa,
partido, assessores ou pessoas próximas – consiga lhe convencer do ridículo da
situação.
Como o velho de
Voltaire que abre este post, o que vemos agora é um José Serra sem cabelos, sem
dentes e sem ideias, a se arrastar pelos corredores do poder, tentando
convencer a si e aos tolos de que tem o carisma de um Lula - e que vai emplacar na terceira vez. O partido
que se dane. O país idem.
13 comentários:
É triste, mas tenho que concordar com o supra exposto.
Acho que o Serra tem que continuar tentando. Quem garante que o Aecio vai decolar? Tem que deixar o eleitor escolher no primeiro turno. Lula perdeu várias até ganhar.
Triste e deprimente para ele, constrangedor para o PSDB,prejudica o partido na sua escolha e o País que precisa se livrar da quadrilha instalada no poder.
Que ele se dê conta do ridículo dessa insistência. Agora, quanto a ter "o carisma de um Lula", seja o que for que isso possa significar, que Deus o livre disso, por pior que ele, Serra, seja!
Eu gostaria de dizer que está na hora de ter um presidente "menos velho" tanto na idade, quanto na mentalidade, quanto nas idéias e ações.
Lula, Dilma, Serra e outros já estão velhos, cansados, sem a vitalidade que o cargo exige.
Tinham que ter dado esse toque pro Lula em 1989 quando perdeu pro Collor. Que feliz seríamos.
Serra foi e será sempre o melhor candidato, independente da idade.
Sou favorável a uma nova candidatura sim do Serra.
Considerando que o moral da história seria o país perder com a eleição do Serra, ou não foi esse o sentido da última frase?
Gostaria de saber a abalizada opinião da blogueira: Quem, dentre os candidatos que se mostram hoje, seria o melhor? Não para apenas vencer a eleição, mas apenas para governar o país de forma correta.
Aécio Neves? o neto daquele político mineiro que morreu milionário sem ter meios para tanto?
Ou seria a Marina, a sonhática anti-política? Iríamos viver de brisa?
EMHO Serra é o que tem a menor boca. Para bom entendedor pingo é letra.
Anônimo das 03:33
Eu poderia até pensar que me expressei mal. Mas como você foi o único que apareceu por aqui com interpretação tão torta, estou certa de que não leu - ou leu e não conseguiu entender.
Então, eu desenho para você:
Em nenhum momento o artigo discute a competência de José Serra para governar.
O texto fala da incompetência de José Serra para ganhar uma eleição presidencial - coisa já bastante evidenciada pelas urnas.
E de como o país vai perder se ele insistir novamente nesta bobagem.
fhc ta certo o aecio e mais joven e tem condiçoes de vencer
Nariz Gelado,
embora seu texto demostre claramente os motivos que o tempo tenha passado para Serra, permita-me ressaltar os motivos que levaram Serra a sair derrotado nas eleições.
Na primeira vez, não sei por quais razões, Fernando Henrique Cardoso apostou mais em Lula (e o apoio não oficial de ex presidente,determinou a vitória do PT) que em Serra.
Na segundo, Aécio virou as costas e não fez questão de apoiar Serra. Ao comparar com EUA, infelizmente os países são diferentes, lá parece que a busca pelo cargo presidencial receber outro tratamento. Talvez não existam tantos políticos profissionais como aqui.
No mais, não vejo problemas de Serra disputar eleições, embora isso pareça um absurdo, mas o que é absurdo mesmo, é Lula poder pleitear novamente a candidatura. Esse sim, deveria ter vergonha em tal propósito.
Rodrigo,
Sugiro que você desça dois posts e leia aquele do dia 7 de julho, intitulado "Quando tucanos sabotam tucanos."
Ali estão colocadas as estripulias tucanas das eleições presidenciais anteriores - as duas últimas também documentadas no histórico deste blog (coluna da direita).
Nada do que você colocou é desconhecido para mim - ao contrário. Mas a pergunta que fiz lá, e que refaço aqui é: o momento é de fazer justiça partidária ou de ganhar a eleição?
Obviamente, Serra tem todo o direito de disputar uma nova eleição. Só que, na minha opinião, a única coisa que ele vai conseguir com isto é levar Marina Silva para o segundo turno com Dilma.
Gente! Deixa o homem tentar, quantas vezes ele queira. Eu, evidentemente,gostaria que ele fosse mais contundente em suas criticas ao governo. Ainda assim, voto nele. Aecio nao. Marina tambem nao. Jamais!
Marcia
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