quarta-feira, 17 de julho de 2013

Serra e o velho de Voltaire

"Não pode o homem ter mais que certo número de dentes, cabelos e ideias. Tempo vem em que inevitavelmente perde os dentes, os cabelos e as ideias". (Voltaire)

Na mais próspera e estável democracia da história moderna, quem perde uma eleição presidencial entende o recado: segue na vida partidária, como congressista, mas abre mão do sonho pessoal de residir no número 1600 da Pennsylvania Avenue.

Foi o que fizeram George McGovern, Walter Mondale e Michael Dukakis. Tradição também seguida por Bob Dole, Al Gore, John Kerry e John McCain. Espera-se o mesmo de Mitt Romney.

Para além da intenção genuína de querer ver o partido chegar ao poder – ou nele manter-se –, o sujeito entende o recado das urnas de primeira também - e, talvez, principalmente- para evitar um desgaste pessoal: não há espaço, na democracia americana, para presidenciáveis profissionais. Ross Perot, o milionário excêntrico que concorreu como independente, tornou-se motivo de piada entre os eleitores em 1996, quando insistiu – na primeira, em 1992, até respeitaram sua intenção.

Por aqui, não. Claro que não. Por aqui há uma espécie de caudilhismo eleitoral, com perdedores querendo eternizar-se na cédula para todo o sempre, na esperança de que, mesmo eles sendo os mesmos, o povo um dia mude de ideia. Não dá pra dizer que é uma jabuticaba – a coisa se repete em recantos latino-americanos. Mas aqui é moda desde os primórdios da República.

Ruy Barbosa insistiu em 1910 e 1919 – nunca levou.  O mesmo destino tiveram Eduardo Gomes e Ademar de Barros. Com o fim do regime militar, a lista de insistentes fracassados incluiu Leonel Brizola, Enéas Carneiro, Ciro Gomes e José Serra. Salvo engano, a tática de vencer o eleitor pela insistência só deu certo três vezes: com Prudente de Moraes, que tentou em 1891 e levou em 1894, Afonso Pena, que tentou em 1894 e levou em 1906, e com Lula – o único a tentar por quatro vezes.

Nos Estados Unidos da América espera-se que um político preparado a ponto de candidatar-se presidente, após ter sido rejeitado pelas urnas, use sua imensa capacidade a serviço do país – no partido, no Congresso, em alguma entidade ou instituto. O que não se aceita é que ele se torne um desocupado a perambular pela nação, tentando derrubar seus prováveis sucessores.  Eu diria que é o pragmatismo yankee estimulando a vergonha na cara.

Por aqui, não. Por aqui José Serra tenta forçar seu terceiro fracasso sem que ninguém – imprensa, partido, assessores ou pessoas próximas – consiga lhe convencer do ridículo da situação.  

Como o velho de Voltaire que abre este post, o que vemos agora é um José Serra sem cabelos, sem dentes e sem ideias, a se arrastar pelos corredores do poder, tentando convencer a si e aos tolos de que tem o carisma de um Lula -  e que vai emplacar na terceira vez. O partido que se dane. O país idem. 

13 comentários:

Soren disse...

É triste, mas tenho que concordar com o supra exposto.

Anônimo disse...

Acho que o Serra tem que continuar tentando. Quem garante que o Aecio vai decolar? Tem que deixar o eleitor escolher no primeiro turno. Lula perdeu várias até ganhar.

Anônimo disse...

Triste e deprimente para ele, constrangedor para o PSDB,prejudica o partido na sua escolha e o País que precisa se livrar da quadrilha instalada no poder.

Anônimo disse...

Que ele se dê conta do ridículo dessa insistência. Agora, quanto a ter "o carisma de um Lula", seja o que for que isso possa significar, que Deus o livre disso, por pior que ele, Serra, seja!

Anônimo disse...

Eu gostaria de dizer que está na hora de ter um presidente "menos velho" tanto na idade, quanto na mentalidade, quanto nas idéias e ações.
Lula, Dilma, Serra e outros já estão velhos, cansados, sem a vitalidade que o cargo exige.

Anônimo disse...

Tinham que ter dado esse toque pro Lula em 1989 quando perdeu pro Collor. Que feliz seríamos.

Anônimo disse...

Serra foi e será sempre o melhor candidato, independente da idade.
Sou favorável a uma nova candidatura sim do Serra.

Anônimo disse...

Considerando que o moral da história seria o país perder com a eleição do Serra, ou não foi esse o sentido da última frase?

Gostaria de saber a abalizada opinião da blogueira: Quem, dentre os candidatos que se mostram hoje, seria o melhor? Não para apenas vencer a eleição, mas apenas para governar o país de forma correta.

Aécio Neves? o neto daquele político mineiro que morreu milionário sem ter meios para tanto?
Ou seria a Marina, a sonhática anti-política? Iríamos viver de brisa?

EMHO Serra é o que tem a menor boca. Para bom entendedor pingo é letra.

Nariz Gelado disse...

Anônimo das 03:33

Eu poderia até pensar que me expressei mal. Mas como você foi o único que apareceu por aqui com interpretação tão torta, estou certa de que não leu - ou leu e não conseguiu entender.

Então, eu desenho para você:

Em nenhum momento o artigo discute a competência de José Serra para governar.

O texto fala da incompetência de José Serra para ganhar uma eleição presidencial - coisa já bastante evidenciada pelas urnas.

E de como o país vai perder se ele insistir novamente nesta bobagem.

Anônimo disse...

fhc ta certo o aecio e mais joven e tem condiçoes de vencer

Rodrigo disse...

Nariz Gelado,
embora seu texto demostre claramente os motivos que o tempo tenha passado para Serra, permita-me ressaltar os motivos que levaram Serra a sair derrotado nas eleições.
Na primeira vez, não sei por quais razões, Fernando Henrique Cardoso apostou mais em Lula (e o apoio não oficial de ex presidente,determinou a vitória do PT) que em Serra.
Na segundo, Aécio virou as costas e não fez questão de apoiar Serra. Ao comparar com EUA, infelizmente os países são diferentes, lá parece que a busca pelo cargo presidencial receber outro tratamento. Talvez não existam tantos políticos profissionais como aqui.
No mais, não vejo problemas de Serra disputar eleições, embora isso pareça um absurdo, mas o que é absurdo mesmo, é Lula poder pleitear novamente a candidatura. Esse sim, deveria ter vergonha em tal propósito.

Nariz Gelado disse...

Rodrigo,

Sugiro que você desça dois posts e leia aquele do dia 7 de julho, intitulado "Quando tucanos sabotam tucanos."

Ali estão colocadas as estripulias tucanas das eleições presidenciais anteriores - as duas últimas também documentadas no histórico deste blog (coluna da direita).

Nada do que você colocou é desconhecido para mim - ao contrário. Mas a pergunta que fiz lá, e que refaço aqui é: o momento é de fazer justiça partidária ou de ganhar a eleição?

Obviamente, Serra tem todo o direito de disputar uma nova eleição. Só que, na minha opinião, a única coisa que ele vai conseguir com isto é levar Marina Silva para o segundo turno com Dilma.

Anônimo disse...

Gente! Deixa o homem tentar, quantas vezes ele queira. Eu, evidentemente,gostaria que ele fosse mais contundente em suas criticas ao governo. Ainda assim, voto nele. Aecio nao. Marina tambem nao. Jamais!

Marcia