terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Rolezinho na intelectualidade nacional. Um post tão careta quanto a vergonha na cara.

De todas as bobagens que já li sobre os tais "rolezinhos", acho que o artigo de Eliane Cantanhêde para a Folha de S. Paulo de hoje, intitulado, "Rolezinho na elite" é a cereja do bolo. Para Eliane, pertencem ao "movimento" jovens da periferia que "querem igualdade, ocupar espaços, gritar e ser ouvidos." Ou ainda: "botar a cara de fora, curtir as férias e dividir o ar condicionado." Logo, conclui a jornalista, tentar proibir tais aglomerações em locais públicos é piorar as coisas - "colocar lenha da fogueira", diz ela.

Comecemos pelo fim: nas grandes democracias - e no Brasil também, embora aqui muitas vezes não se cumpra  -  a reunião de um grande número de pessoas em um mesmo local, seja ele público ou privado, pouco importando se para rezar, dançar ou macaquear, requer organização prévia. Isto porque é preciso garantir a segurança dos participantes - o que, muitas vezes, inclui, sim, a  presença da polícia e até de paramédicos e bombeiros. Não se realizam nem shows, nem jogos de futebol, nem procissões sem que tal regra seja cumprida.

Eliane Cantanhêde conhece muito bem esta regra. Assim como ela tem plena consciência de que é impossível mensurar a adesão a  um encontro divulgado  na  internet -  o que torna a aplicação da dita regra muito mais necessária. Eliane tampouco ignora que se houver corre-corre, pisoteamento e feridos dentro de um shopping center, seus proprietários serão judicialmente responsabilizados.

Mas se não ignora nada disso, porque a jornalista insiste em  nos fazer crer que existe uma certa categoria social, os "jovens da periferia", que estão acima de leis e princípios que todos os demais cidadãos precisam respeitar?

Na verdade, a postura da jornalista - com quem, é bom esclarecer, tenho concordado inúmeras vezes -   apenas reflete o pensamento hegemônico dominante entre boa parte da pretensa intelectualidade nacional:  que o morador da periferia, por ser um injustiçado social, está autorizado a infringir a lei para buscar os direitos que lhes são diariamente negados. E o pior: que toda e qualquer reação à infração advinda destes indivíduos configura preconceito - social, racial ou ambos.

O mais interessante: este pensamento tem origem não na periferia - onde a maioria dos moradores respeita leis e costumes,apresentando às vezes, códigos de conduta bastante rígidos, que podem ser considerados conservadores, do tipo: "lei é para ser respeitada". Este pensamento hegemônico tem origem nas universidades públicas, redutos dos filhos da elite, que tendem a olhar para os outros, aqueles da periferia, com a condescendência de quem olha para um incapaz.  É ali, onde se reúnem aqueles que podem se dar ao luxo de estudar sem trabalhar, que são gestadas estas besteiras pseudo sociológicas que a tudo justificam.

Besteiras pseudo sociológicas, sim senhores. Não nasci em berço de ouro - longe disso. E é por isso que sei muito bem que ninguém precisa de condescendência para ocupar espaços e conquistar seu lugar na sociedade. Também sei muito bem que inclusão se conquista, antes de tudo, respeitando as regras do ambiente no qual se quer ser incluído. E o mais óbvio:  a única coisa que se pode conseguir tumultuando um shopping center é confusão com a polícia.

Se os jovens das nossas periferias são incapazes de entender algo tão simples  não é apenas porque carecem de boa educação e ensino qualidade mas, também, porque há muitos porta-vozes atuando em prol besteirol sociológico -  vendo "manifestação legítima" no que é simplesmente falta de noção de alteridade, grosseria e desrespeito.

Para escrever convidando esta moçada a "dividir o ar condicionado" de uma biblioteca pública não aparece ninguém.

*Atualização às 22h19min: acabo de ver que o Rodrigo Constantino havia publicado, às 21:16, um post com um final muito parecido com este meu, publicado às 21:25. Acho que quase 11 anos de blog me permitem garantir aos leitores que não foi plágio - foi, isto sim, a obviedade da situação. Clique aqui para ler o post do Rodrigo. 

7 comentários:

Anônimo disse...

Será isso cegueira ou má fé? Custo a crer no primeiro caso, já que a Catañede é jornalista e bem informada. Má fé, diante do horror que estamos a viver, comparando com a paz de uma década atrás, pelo menos não vivíamos isso, é crime.

Harlock disse...

Salve.
Esse mi-mi-mi de "injustiçado social" com que se justificam todas as ações de favelados, alegados sem-teto&sem-terra, índios etc. já condiciona de antemão qualquer debate, seja sobre educação ou ocupação do solo urbano, à uma única abordagem ideológica.
Qualquer contestação aos excessos e ilegalidades já vira logo prova de "insensibilidade social", senão de racismo mesmo.
Engraçado é que meus vizinhos do "Complexo do Alemão" tem mais aparelhos de ar-condicionado do que meus vizinhos burgueses e qualquer birosca, pelo menos dois freezers, sempre cheios.
Claro, afinal são "injustiçados sociais" e a burguesia tem uma dívida histórica a resgatar... então, viva o "gato" e que quem paga suas próprias contas durma de ventilador.

Anônimo disse...

É a primeira vez que venho aqui, Nariz Gelado.
Parabéns por tuas lúcidas palavras.
É isso aí! Juntamente com os demais blogueiros, bem conhecidos teus, vamos desmontar essa hipocrisia.
Tenho certeza de não foi plágio do RC. As coisas estão ficando de um jeito que os que pensam mais ou
menos parecido acabam, sim, escrevendo coisas quase idênticas.
Força! Continue.
Abraço

JUJU disse...

É a primeira vez que escrevo aqui, apesar de estar sempre atenta ao seu blog.
Hoje, não resisti1 Você escreveu TUDO aquilo que penso sobre este assunto e sobre esta jornalista.
É lamentável! É vergonhosa a opinião dessa senhora. Fez a mesma "pregação" no programa da também petralha Cristiana Lobo.
Horrível! Ela é mais uma
"Pseudointelequitual" petralha!

JUJU disse...

Gostaria muito que esta jornalista e muitos outros que estão defendendo esta "insanidade social" tivessem uma loja ou um quiosque de picolé em qualquer shopping para sentir na pele o que os lojistas estão passando.
DUVIDO! que não chamariam a POLÍCIA para tomar as devidas providências.
O resto é blá,blá,blá de quem não tem PATRIOTISMO por seu país, que está a beira do abismo.
NG, PARABÉNS!!! Pelo seu blog, gosto muito dos seus comentários.

Anônimo disse...

A Caixa faz rolezinho nas contas de poupadores. O povão do bolsa família faz rolezinho nos caixas da Caixa. Os black blocs fazem rolezinho frente às manifestações espontâneas contra os políticos. São tantos rolezinhos. O país vai se transformando em referência de rolezinhos.

Anônimo disse...

Perfeito. Agora os estudantes em Brasília, protestando ao ar livre, foram retirados pela policia. E ai o que vão dizer os sociólogos de plantão?