segunda-feira, 12 de maio de 2014

Sem tempo de TV, sem voto novo e com imagem desgastada: Serra como vice pode colocar tudo a perder

Reza a lenda que, numa chapa presidencial, o bom vice é aquele que traz votos novos - ou seja, votos que o candidato e o partido não conquistariam sozinhos - e mais tempo de televisão. Se fizer tudo isso sem atrapalhar - leia-se, não querer aparecer mais do que o próprio candidato e cumprir, com alegria, o papel secundário de dar voz à coisas que não são interessantes saírem da boca do próprio candidato - o sujeito em questão torna-se o vice ideal.

José Serra não cumpre qualquer um destes requisitos. Daí o meu espanto com as inúmeras notícias surgidas, desde a última quinta-feira, sobre sua reaproximação com Aécio Neves - o que a imprensa paulista interpreta como um sinal de que o mineiro estaria inclinado a ceder às pressões de Serra ainda que esta mesma imprensa tenha o cuidado de fazer de conta que não existe qualquer pressão vinda do próprio Serra.

Só para deixar claro: existe pressão, sim. Não existia em maio de 2013, quando a aprovação de Dilma estava nas alturas e Aécio foi eleito presidente do partido. Passou e existir em junho de 2013, quando a aprovação de Dilma caiu ao sabor das manifestações populares. Sumiu novamente no final do ano, quando Dilma deu sinais que que voltava a se recuperar - com direito, inclusive, a post de José Serra no Facebok, dizendo que o candidato era Aécio. E volta a existir agora, claro, quando todas as pesquisas confirmam a queda de Dilma e crescimento de Aécio Neves. Serra só vai na boa. Desiste ou insiste na proximidade com o pleito presidencial conforme são maiores ou menores a chances de vitória por parte do PSDB.

E quando eu digo que José Serra não cumpre qualquer um dos requisitos para ser um bom vice na chapa tucana não é porque ele não tenha todas as condições para ser um bom vice-presidente da República. É porque do ponto de vista eleitoral Serra vai atrapalhar mais do que ajudar. Exatamente como aconteceu nas duas vezes em que foi candidato à presidente, Serra teria todas as condições de governar bem, mas poucas - ou nenhuma - de ganhar uma eleição. E precisaria de muita sorte - luxo com o qual não se pode contar numa campanha que será, no mínimo, muito difícil - para não atrapalhar a trajetória de Aécio.

A acomodação política no PSDB paulista
Tenho uma opinião muito particular sobre esta crença de que é preciso um paulista na chapa para garantir a mais do que necessária adesão do PSDB de São Paulo à campanha presidencial. Por uma questão muito simples: se os tucanos paulistas não abraçarem  a campanha presidencial com todo o empenho, arriscam perder a estadual. Para se reeleger, Geraldo Alckmin vai precisar muito de um palanque presidencial no segundo turno. E se os tucanos da terra da garoa ainda não se deram conta disso, seria bom que eles caíssem na real o quanto antes.

Novo votos
É improvável que José Serra traga novos votos. O mais certo é que os votos de Serra, ou o que deles sobrou depois da derrota para Haddad  - votos de oposição ao PT, portanto -,  virão automaticamente para Aécio Neves. Outro votos - aqueles de quem preferiu Dilma em 2010, por exemplo - são mais improváveis ainda. Se Aécio conquistar votos que foram de Dilma em 2010, irá fazê-lo porque representa uma proposta nova - argumento que o tucano perde no momento em que colocar Serra ao seu lado.

Fadiga da imagem
Já tratei algumas vezes deste tema por aqui. A eleição de 2010 foi um exemplo pródigo do quanto José Serra sofre um problema parecido com aquele que atinge os Amin - Esperidião e Ângela -  em Santa Catarina: infelizmente, ele aparece bem cotado nas pesquisas até que coloca a cara na televisão. Seu nome tem bom recall porque foi candidato muitas vezes e fez bons governos. Mas tão logo as pessoas o vêem, são acometidas pela sensação de que o tempo dele já passou. Isto explica, em parte,  porque Serra tinha 45% das intenções de voto no início de 2010 e foi perdendo pontos na mesma medida em que aumentava sua exposição na televisão. Também ajuda a entender porque ele perdeu para Fernando Haddad - um poste com cara de novidade - em 2012.

Por isso eu espero que Aécio Neves e quem o assessora  não cometam o erro de se fiar em pesquisas quantitativas para escolher Serra como vice. Façam, por favor, uma qualitativa: gravem vídeos de Serra e Aécio e submetam a um focus group antes de decidir qualquer coisa. É assim que se mede o benefício - ou o estrago - que um vice pode fazer na imagem de um candidato.

A campanha de Aécio Neves vai muito bem até aqui. Está crescendo aos poucos, mas de forma sólida - evolução confirmada por todas as pesquisas realizadas nas últimas semanas - ao mesmo tempo em que Dilma dá sinais de fraqueza. Não, não vai ser uma campanha fácil. Mas, em 12 anos, é a primeira vez que as chances para uma vitória da oposição se mostram realmente concretas. Escolher um vice mais ou menos pode não ajudar. Mas escolher o vice errado pode colocar tudo a perder.

16 comentários:

Anônimo disse...

Estás absolutamente certa! O Serra não acrescenta nada à campanha do Aécio. Entendo que a senadora Ana Amélia Lemos ou o deputado e Ronaldo Caiado são ótimos nomes e o PP tiraria tempo da Dilma.

Anônimo disse...

Acho que o melhor vice para o Aécio seria um nome forte da Região Nordeste, região onde o tucano ainda encontra dificuldades eleitorais. Tasso Jereissati, por exemplo, seria um bom nome.

Anônimo disse...

Sem São Paulo, Aécio perde a eleição. José Serra de vice pode fazer-lhe bem. Minas Gerais e São Paulo terão de dar vitória quase absoluta ao mineiro. Do contrário, adeus, eleição!

Anônimo disse...

O problema de Aécio é que ele não tem votos em São Paulo, assim como o Eduardo Campos menos ainda. Dilma ganha em São Paulo se não houver algum cuidado na campanha de Aécio. Serra como vice não sei se é uma boa. Mas alguém de São Paulo, mas com origem nordestina, poderia ser bom. Uma mulher assim, melhor ainda.

Anônimo disse...

O Serra de vice poderia tirar o PPS do Eduardo Campos e o PSD da Dilma, pois são os dois partidos de seus principais e fieis aliados ( Kassab e Roberto Freire).


As pesquisas deixaram claro que o Aécio precisará de tempo de TV para se tornar conhecido e convencer o eleitor de que pode conduzir melhor o país nos próximos quatro anos.

Anônimo disse...

A diferença entre a Nariz e o Reinaldo é que ela já ganhou algumas campanhas. Já o Reinaldo Azevedo não se tem notícias de que tenha experiência na área.
Fico com a opinião da Nariz.
JP

Cavallieri disse...

Sou de São Paulo.
Com ou sem Serra os votos de Aécio em São Paulo serão os mesmos.
O que ele precisa é tempo de TV, ainda que tenha que se render ao PP ou ao PSD. Tempo de TV, alguém realmente de oposição se possível mulher.
Serra faria muito bem ao país se fosse candidato a deputado, ele tem votos sim e puxaria votos para deputados, diminuindo a base do PT na câmara. Não tem votos para ser senador.

MAURO disse...

Coloque um Índio qualquer sobre às Costas do Aécio, como o que foi colocado nas Costas de Serra em 2010, e, depois, lamente-se!
Nas eleições de 2010, o vice de Serra tinha zero de rejeição, mas, como contrapartida, tinha zero de voto. Ainda assim, Serra foi para o segundo turno e levou com ele 43 milhões de brasileiros e brasileiras.
José Serra pode não ser a melhor solução como vice, aí é uma questão de opinião, mas, querer diminuir sua importância como agregador de votos a Aécio no maior
colégio eleitoral do País, beira quase ao preconceito!

Leonardo disse...

Esse é o texto que eu queria ter escrito sobre essa história de José Serra vice, isto é, se eu tivesse um blog, e alguém se importasse em ler. hehehe

danir disse...

Creio que o Serra tem como maior problema o próprio eleitorado do PSDB. Embora tanto o seu comentário como o do Reinaldo Azevedo possam ser adotados em função das simpatias de cada um, sem que isto signifique uma desaprovação da vida política do Serra ou do Aécio; penso que este não é o momento de gerarmos polêmica com a questão. Qualquer eleitor consciente tem a obrigação de votar no Aécio, independente do vice na chapa, desde que este vice seja competente, tenha um passado e seja honesto. Confesso que ainda não formei opinião a respeito, e tenho argumentos que se alinham com os seus e também com os do Reinaldo. Entretanto, estou percebendo algumas posturas das pessoas que comentam, que me preocupam. Uma delas é polarizar entre a sua posição e a do Reinaldo Azevedo. Outra é colocar o Serra dentro ou fora da chapa como uma condicionante para o apoio ao Aécio ou para a confiança nas possibilidades da chapa. No momento atual, qualquer dissidência interna que se acentue, será explorada tanto pelo pt quanto pelo PSD. Qualquer eleitor que fizer a campanha contra Serra, estará fazendo contra o Aécio e consequentemente dando munição para os adversários que por suas próprias bagagens não jogam limpo. Eu pessoalmente ainda não formei opinião a respeito, mas, desde já concentro meu esforço no desmascaramento das mentiras do pt e também dos perigos que estão por trás da dupla Campos / Marina. Quando ainda não estava decidido quem seria o candidato do PSDB, eu era partidário do Serra. Fazia meu proselitismo dentro de parâmetros de respeito e consideração à carreira política do Aécio, e quando foi decidido o dono da chapa, imediatamente dediquei meu tempo ao trabalho de desmascarar os oponentes e mostrar que a proposta do PSDB, é no momento a melhor para rompermos com o ciclo vicioso do pt e iniciar um processo lento e árduo de mudança. Não existe dúvida em minha mente, só há uma opção de voto para presidente que é benéfica para o Brasil. Dedico meu tempo para defender e apoiar o candidato em questão. Fico muito chateado de ter que escrever estas linhas, ao invez de focar minha atenção no que possa fazer para dar o máximo de suporte possível ao candidato Aécio Neves. Se o Serra vier como vice, devemos saudá-lo e apoiá-lo com um voto de confiança, pelo que fez no passado e pelo que pode fazer se realmente somar com o Aécio. Qualquer intriga no meio do caminho só interessa ao pt e às suas crias. Saudações a todos.

Anônimo disse...

Análise perfeita !! 100% perfeita !....São Paulo vota contra o PT com ou sem Serra.....São Paulo vota com Aécio com ou sem Serra......se o PSDB cometer a loucura de indicar Serra a vice vai colocar tudo a perder.....a decisão é altamente arriscada......não...1000 vezes não

Anônimo disse...

O Serra é um chato de galocha! Vai torrar a paciência do Aécio.

Anônimo disse...

Infelizmente José Serra não agrega votos nem em São Paulo. Sua taxa de rejeição é altíssima. Foi excelente governador, senador e ministro da saúde, mas 16 anos sendo o alvo preferido do PT e adversário em diversas campanhas o desgastou. Até um livro mentiroso o PT ajudou a publicar para enterrar a biografia de Serra. Não adianta, Serra é ótimo gestor, inteligente e articulador, mas tem um ego inflado e alta rejeição - parafraseando Lula - rejeição formada por 20% de seus defeitos e 80% dos ataques sistemáticos do PT contra ele. Aécio precisa de um vice do nordeste com ficha limpíssima ou então uma mulher. Esqueçam Ana Amélia, ela não vai jogar fora uma eleição ganha para governadora. Apesar de não agregar minutos de TV, apostaria na deputada paulista Mara Gabilli - mulher, nova, com ótimo carisma televisivo e ainda uma ativista dos direitos dos portadores de deficiência motora.

Jml disse...

NG, olha este artigo do JOSÉ CASADO, no O GLOBO, que expõe o verdadeiro rosto do PT: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?blogadmin=true&cod_post=535681&ch=n


São 2.200 palavras espalhadas por dez páginas com as “diretrizes” do programa de governo, da tática de campanha e da política de alianças do Partido dos Trabalhadores para a disputa em outubro. Foram proclamadas na semana passada por 800 dirigentes do partido, sob a batuta de Lula, na sagração da candidatura de Dilma Rousseff à reeleição.

O conteúdo surpreende: revela que o maior partido político brasileiro, a cinco meses da eleição e com sua candidata liderando todas as pesquisas, planeja uma campanha eleitoral raivosa sobre os adversários, na defensiva diante da “complexidade da conjuntura” e dos “reflexos da crise mundial”.

O documento, disponível na rede do PT, é cinco vezes mais extenso que o da campanha de 2010. Indica uma drástica mudança no humor petista depois de 12 anos no poder.

Dissiparam-se o tom de leveza e o autojúbilo com a certeza de que se mudavam “substancialmente o Brasil e a vida dos brasileiros”.

Agora, a “resolução” do PT é pela guerra total a quem ameaçar a “conquista de hegemonia em torno do nosso projeto de sociedade”.

Os dirigentes creem ter uma missão salvacionista: “Superar a herança maldita, cujas fontes são a ditadura militar, o desenvolvimentismo conservador e a devastação neoliberal.”

Assim, veem como “tarefa” o “aprofundamento da soberania nacional, a aceleração e radicalização da integração latino-americana e caribenha, e uma política externa que confronte os interesses dos Estados Unidos e seus aliados”.

Em síndrome persecutória, enxergam “um pesado ataque ao nosso projeto, ao nosso governo e ao PT, por parte de setores da elite conservadora e da mídia oligopolista, que funciona como verdadeiro partido de oposição”. O “principal exemplo”, afirmam, foi o “julgamento de exceção” do mensalão no STF.

Supõem ser essencial desqualificar os adversários:

“Representam um projeto oposto ao nosso, muito embora um deles se esforce em transmutar-se em uma suposta terceira via. Guardadas as diferenças secundárias e temporais, arregimentam os interesses privatistas, rentistas, entreguistas, sob o guarda-chuva ideológico do neoliberalismo e de valores retrógrados do machismo, racismo e homofobia, daqueles que pretendem voltar ao passado neoliberal, excludente e conservador.”

Interpretam a ansiedade por mudanças (expressa por 74% dos eleitores, no Datafolha) como atestado da própria onisciência, pois “todas estão contidas em nosso programa, como é o caso exemplar da reforma política, a democratização da comunicação, a reforma agrária, a reforma urbana e a reforma tributária”.

Acham que o epicentro está na “luta pela reforma política”. Porque “nosso grande objetivo é democratizar o Estado, inverter prioridades e estabelecer uma contra-hegemonia ao capitalismo, construir um socialismo radicalmente democrático para o Brasil”.

Essas “diretrizes” esvanecem a possibilidade de sedução do eleitor pela oferta objetiva de um futuro de progresso pessoal e coletivo. Elas pressupõem que a militância petista vá às ruas intimar o eleitorado a votar em Dilma por solidariedade à cúpula, que parece se afogar num estuário de mágoas. Seria um exercício eleitoral inovador sobre a arte de viver da fé. Só não se sabe fé em quê.






Anônimo disse...

Kátia Abreu é a candidata a vice. Consolida aliança do PSD com o PSDB, agrega tempo de TV, e facilita a chapa Alckmim Kassab e, São Paulo, além de ser mulher e competente.

Sueli disse...

Concordo plenamente com você. A minha empregada também! E ela, que anda de ônibus diariamente, metraz muitas referências: Serra não é querido em São Paulo porque deixou a prefeitura para candidatar-se depois de ter prometido não fazê-lo. Recebeu votos na última eleição porque o paulista é contra o PT e não porque é Serra. Não duvido da sua competência e poderá ser ótimo Ministro, mas a chapa deve ter um nome novo.