sábado, 8 de março de 2014

O PMDB, este guardião da democracia

"O PT tem projeto hegemônico, de dominação completa do poder político. 
Por isso, sempre terá candidato a tudo, tenderá a ocupar todos os espaços."
(Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara dos Deputados, em entrevista à Revista Época)


Em entrevista para a Época que está chegando às bancas neste sábado, Eduardo Cunha solta o verbo contra o PT e evidencia que a crise entre o PMDB e o governo Dilma é séria.

Não é novidade para quem acompanha este blog. Desça a página, ou clique aqui, e leia o post que publiquei no último sábado, avisando que o programa de TV que o PMDB levara ao ar na quinta-feira era um sinal claro da tempestade que se aproximava do Palácio Planalto.

Que tudo se acalme até junho ainda é, obviamente, a aposta mais acertada. Mas também é verdade que,ao longo da última década, a possibilidade de um rompimento entre PT e PMDB nunca se mostrou tão forte.

No post da semana passada, falei de como funciona o jogo do PMDB com o poder. Faltou apenas dizer que, por vias tortas e motivos às vezes pouco louváveis, desde o fim da ditadura o PMDB tem sido um fiel guardião da democracia.

Um peemedebista lhe dirá que isto é assim porque o partido foi fundamental no processo de redemocratização do país - o que é verdade e, certamente, é o genuíno sentimento que alimenta muitos de seus filiados e representantes em diversas instâncias de poder. Mas há também - e, talvez, sobretudo -  algo mais concreto e pragmático que faz com que o PMDB defenda, com unhas e dentes, o sistema democrático: só na democracia ele pode participar do poder com todo o seu fisiologismo.

Não foram poucas as vezes em que vi amigos se espantarem diante da minha declaração de que sempre poderíamos contar com o PMDB para defender a democracia porque ela lhe era, sob diferentes aspectos, mais vantajosa do que qualquer outro sistema político - e que, por este motivo, o PMDB jamais permitiria que os arroubos ditatoriais do PT se concretizassem. Penso que agora, ao lerem a entrevista de Eduardo Cunha - e especialmente a declaração que abre este post - os amigos que espantei começarão a concordar comigo.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Dilma é a estrela principal de vídeo que mostra as atrocidades de Maduro na Venezuela

Vergonha para o Brasil, o vídeo abaixo, postado hoje cedo pelo Reinaldo Azevedo, está se espalhando feito rastilho de pólvora na internet.

Nele, uma estudante venezuelana explica as manifestações que estão ocorrendo naquele país. E, para vergonha nossa, ao final do primeiro minuto, quando a estudante afirma que todo o quadro de repressão, assassinato de manifestantes e censura à imprensa se passa "sob o silêncio cúmplice dos governos da região", a imagem que estoura na tela é a de Dilma Rousseff.


E não há nada de mentiroso no vídeo. Basta ver as últimas declarações do assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, para saber o que Dilma pensa sobre a situação no país vizinho: que há um "exagero" na divulgação das informações, por parte da impressa estrangeira, e que, "se convidado for, o Brasil está disposto a apoiar" o governo ditatorial de Nicolás Maduro.

Recentemente, em artigo para a Folha de S. Paulo, Aécio Neves disse que o mundo anda desconfiado do Brasil porque, na prática, temos dado guarida a governos autoritários. O vídeo abaixo é uma clara e triste demonstração de que o alerta feito pelo senador tucano foi mais do que acertado.   

sábado, 1 de março de 2014

O recado do PMDB na TV: a eleição de 2014 é uma página em branco

A semana foi tão corrida que somente agora pude assistir o programa de televisão que o PMDB levou ao ar nesta quinta-feira. E a mensagem que o partido de Michel Temer decidiu emitir em seu primeiro espaço de propaganda do ano é tão clara que me espantei com as poucas reações surgidas.

Notem que não se trata, aqui, de fazer análise da qualidade do programa e,  muito menos,  de debater que a nova - pouca importa se boa ou não -  linguagem apresentada implique em alguma renovação concreta no partido. Na verdade, a linguagem apresentada nesta semana já tinha sido ensaiada no programa exibido em agosto do ano passado - em pleno calor das manifestações que tomaram as ruas do país.

Quero falar é do tema que foi o eixo discursivo do programa desta quinta-feira: "escolhas". Ao longo de mais de 10 minutos de programa  o PMDB não fez outra coisa a não ser deixar  claro que sua escolha para 2014 ainda não foi feita. Se o partido vai novamente com Dilma ou se vai debandar para a oposição, é "escolha" que será feita mais adiante - em se tratando do PMDB, quando o cenário eleitoral indicar com mais segurança qual decisão tem mais chances de mantê-lo em estreitas relações com o poder.

Bem sei que a postura não é nova. O PMDB é aquele partido que, há décadas, tem se mantido no poder mediante um jogo que inclui o "racha" eleitoral: oficialmente, sempre apoia o governo; informalmente, faz vistas grossas para os membros "rebeldes" que declaram apoio à oposição. Conforme o quadro eleitoral vai ficando mais definido, o partido sempre pode pular para o barco que melhor lhe convier - no mínimo porque, quando a oposição vence, aqueles "rebeldes" serão seus embaixadores junto ao novo governo eleito.  O espólio desta guerra vocês conhecem: são os cargos em ministérios e empresas estatais.

Mas, então, o que há de novo no programa eleitoral levado ao ar na quinta-feira? A inédita institucionalização deste jogo e, por conseqüência, o evidente temor de manter-se, precipitadamente, associado a Dilma Rousseff. Basta clicar aqui  e assistir o programa que o partido levou ao ar nesta mesma época, em 2010, para entender: então, tudo o que o PMDB queria era vincular-se aos programas sociais de Lula, numa clara preparação ao apoio que daria à sua sucessora.

Ao que tudo indica, agora o "maior partido do Brasil" entra em um ano eleitoral sem conseguir enxergar o quadro com tanta clareza. O PMDB tem  dúvidas sobre seguir ou não com Dilma - e quer assegurar o seu direito de fazer outras escolhas. E quando o PMDB, que nunca dá ponto sem nó, manda um recado destes, a oposição pode ter uma certeza: a situação de Dilma não está nada boa.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Pesquisa eleitoral em fevereiro: quanto vale?

O quadro eleitoral em fevereiro de 2010
mostrava José Serra com boa vantagem.
Quanto vale uma pesquisa eleitoral quantitativa em fevereiro?

A imagem que abre este post mostra que vale nada. Números, a esta altura do campeonato, servem apenas  para mobilizar - e, com mais força, desmobilizar - a militância e simpatizantes. Não faltam exemplos: aquela tragédia chamada Fernando Collor tinha 7% das intenções de voto em março de 1989.

As únicas pesquisas que valem antes da campanha propriamente dita começar são as qualitativas, porque trazem impressões do eleitorado a respeito dos possíveis candidatos, e as quantitativas que avaliam a aprovação de governo. Ainda assim, vale dizer que estas últimas, as de aprovação de governo, estão sujeitas a uma rápida mutação tão logo a campanha de televisão entre no ar. Já vi acontecer inúmeras vezes.

Nada disso pode ser novidade para quem diz entender um pouco de política. E, ainda assim, vemos a oposição cair com freqüência no conto da pesquisa antecipada. Mal saem os índices e já começa o ranger de dentes seguido, o que é pior, de uma enxurrada de críticas a respeito do candidato, da comunicação da campanha, da postura do partido, etc e tal.

Na internet, onde os palpiteiros mal respiram antes de sair desmobilizando militância e simpatizantes por conta de uma informação que vale nada, a coisa toma uma proporção absurda. Sugiro que olhem  para o quadro eleitoral de fevereiro de 2010 e aceitem uma verdade simples: dar crédito a números neste momento é coisa de quem pouco ou nada entende de política.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Cuidado: a guerra suja do PT já começou - e tem rato infiltrado na oposição

Como já foi amplamente noticiado, a demissão de Helena Chagas da Secretaria de Comunicação da Presidência foi apenas a cereja do bolo de uma guerra interna do PT. O espólio desta guerra era o controle da comunicação do Governo Federal em ano de campanha – verbas publicitárias milionárias inclusas sim, mas, principalmente, o retorno de Franklin Martins ao círculo mais íntimo de conselheiros de Dilma.

Alguns detalhes desta guerra transbordaram, ao longo dos últimos dois meses, para a imprensa. Aqui e ali, pudemos ler que Franklin Martins, com o apoio de João Santana, batalhava duro por este retorno. E o episódio do post atacando Eduardo Campos, na página oficial do PT, tem sido apresentado como a gota d’água para que mudanças fossem feitas.

Não é exatamente assim. Antes de mais nada, Campos é, hoje, o candidato que menos ameaça o PT. O post em questão feriu mais as esperanças de uma aliança no segundo turno do que qualquer outra coisa. Depois, nos bastidores, se comenta que a vitória de Franklin se deve a algo muito mais estratégico: a cooptação de gente bastante ativa na internet que, nas campanhas anteriores, esteve nas fileiras da oposição.

A proposta de Franklin Martins teria sido, justamente, cooptar usuários independentes, originários da oposição, mas que estivessem demonstrando insatisfação com a candidatura de Aécio Neves – este sim, alvo das preocupações mais prementes de João Santana e, por tabela, de Dilma Rousseff.

A confirmar isto que, até o momento, parece ser apenas uma fofoca de bastidores, passaremos a ver gente que sempre se disse de oposição desferir golpes baixos contra Aécio Neves nas redes sociais.

Portanto, fique de olho. Quando vir um suposto oposicionista agredir ou ridicularizar o único candidato que tem chances reais de derrotar Dilma Rousseff, você pode estar diante de um rato imundo contratado por Franklin Martins.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Rolezinho na intelectualidade nacional. Um post tão careta quanto a vergonha na cara.

De todas as bobagens que já li sobre os tais "rolezinhos", acho que o artigo de Eliane Cantanhêde para a Folha de S. Paulo de hoje, intitulado, "Rolezinho na elite" é a cereja do bolo. Para Eliane, pertencem ao "movimento" jovens da periferia que "querem igualdade, ocupar espaços, gritar e ser ouvidos." Ou ainda: "botar a cara de fora, curtir as férias e dividir o ar condicionado." Logo, conclui a jornalista, tentar proibir tais aglomerações em locais públicos é piorar as coisas - "colocar lenha da fogueira", diz ela.

Comecemos pelo fim: nas grandes democracias - e no Brasil também, embora aqui muitas vezes não se cumpra  -  a reunião de um grande número de pessoas em um mesmo local, seja ele público ou privado, pouco importando se para rezar, dançar ou macaquear, requer organização prévia. Isto porque é preciso garantir a segurança dos participantes - o que, muitas vezes, inclui, sim, a  presença da polícia e até de paramédicos e bombeiros. Não se realizam nem shows, nem jogos de futebol, nem procissões sem que tal regra seja cumprida.

Eliane Cantanhêde conhece muito bem esta regra. Assim como ela tem plena consciência de que é impossível mensurar a adesão a  um encontro divulgado  na  internet -  o que torna a aplicação da dita regra muito mais necessária. Eliane tampouco ignora que se houver corre-corre, pisoteamento e feridos dentro de um shopping center, seus proprietários serão judicialmente responsabilizados.

Mas se não ignora nada disso, porque a jornalista insiste em  nos fazer crer que existe uma certa categoria social, os "jovens da periferia", que estão acima de leis e princípios que todos os demais cidadãos precisam respeitar?

Na verdade, a postura da jornalista - com quem, é bom esclarecer, tenho concordado inúmeras vezes -   apenas reflete o pensamento hegemônico dominante entre boa parte da pretensa intelectualidade nacional:  que o morador da periferia, por ser um injustiçado social, está autorizado a infringir a lei para buscar os direitos que lhes são diariamente negados. E o pior: que toda e qualquer reação à infração advinda destes indivíduos configura preconceito - social, racial ou ambos.

O mais interessante: este pensamento tem origem não na periferia - onde a maioria dos moradores respeita leis e costumes,apresentando às vezes, códigos de conduta bastante rígidos, que podem ser considerados conservadores, do tipo: "lei é para ser respeitada". Este pensamento hegemônico tem origem nas universidades públicas, redutos dos filhos da elite, que tendem a olhar para os outros, aqueles da periferia, com a condescendência de quem olha para um incapaz.  É ali, onde se reúnem aqueles que podem se dar ao luxo de estudar sem trabalhar, que são gestadas estas besteiras pseudo sociológicas que a tudo justificam.

Besteiras pseudo sociológicas, sim senhores. Não nasci em berço de ouro - longe disso. E é por isso que sei muito bem que ninguém precisa de condescendência para ocupar espaços e conquistar seu lugar na sociedade. Também sei muito bem que inclusão se conquista, antes de tudo, respeitando as regras do ambiente no qual se quer ser incluído. E o mais óbvio:  a única coisa que se pode conseguir tumultuando um shopping center é confusão com a polícia.

Se os jovens das nossas periferias são incapazes de entender algo tão simples  não é apenas porque carecem de boa educação e ensino qualidade mas, também, porque há muitos porta-vozes atuando em prol besteirol sociológico -  vendo "manifestação legítima" no que é simplesmente falta de noção de alteridade, grosseria e desrespeito.

Para escrever convidando esta moçada a "dividir o ar condicionado" de uma biblioteca pública não aparece ninguém.

*Atualização às 22h19min: acabo de ver que o Rodrigo Constantino havia publicado, às 21:16, um post com um final muito parecido com este meu, publicado às 21:25. Acho que quase 11 anos de blog me permitem garantir aos leitores que não foi plágio - foi, isto sim, a obviedade da situação. Clique aqui para ler o post do Rodrigo. 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

2014 começa hoje. E quem não está com Aécio, está com o PT.



“É inútil fecharmos os olhos à realidade. 
Se o fizermos, a realidade abrirá nossas pálpebras 
e nos imporá a sua presença.” 
(Juscelino Kubitschek)


Ontem, José Serra finalmente reconheceu que não há mais espaço para o seu sonho pessoal. Hoje, o PSDB apresentou sua nova agenda para mudar o Brasil - com prioridades, desafios e caminhos para superá-los. 

Portanto, como sugere a frase de JK que abre este post, não é mais possível fecharmos os olhos à realidade: 2014 começa aqui e agora. Daqui pra frente, tudo o que fizermos como cidadãos, militantes políticos ou simplesmente eleitores, começará a definir o resultado que teremos em novembro do ano que vem. 

Não há mais tempo para indecisões. Não há mais espaço para a covardia da neutralidade. A partir de agora, ou você está com Aécio Neves, ou está com o PT. Ou você está apoiando o único candidato que representa a ruptura com o regime petista, ou está trabalhando, mesmo que em silêncio, para a manutenção do PT no poder. 

Não, eu não esqueci a existência da aliança Eduardo Campos e Marina Silva. Lembro dela tão bem quanto lembro onde ambos estavam ainda outro dia: nos braços do PT. Como já disse várias vezes aqui, Marina e Eduardo Campos são apenas o PT envergonhado. O PT 2.0, com roupa nova e um passado de harmoniosa convivência com Lula e seus mensaleiros. 

Logo, Aécio Neves é  a única possibilidade de tirarmos o PT do poder. Não apoiá-lo é omitir-se. Rejeitá-lo porque ele não representa todos os seus anseios – quem representa? – é trabalhar a favor do PT. Da mesma forma, jogar a decisão para o segundo turno, declarar voto nulo, ou simplesmente ficar inerte quando as pessoas à sua volta assim agem, é trabalhar a favor do PT.

Quer você goste ou não, esta é a nossa realidade. E é inútil fechar os olhos a ela.

domingo, 17 de novembro de 2013

Os nove erros da oposição na internet.


Já são 17 anos de internet e uma década de blog. No meio do caminho, três campanhas presidenciais – as três amargando derrotas para o PT -, muitas lições aprendidas e a fúria de ver gente que se diz de oposição cometer sempre os mesmos erros na internet.

Desde 2002, quando os debates eleitorais na web ficavam restritos às salas de bate-papo e aos GDs – grupos de discussão - do UOL, passando pela pancadaria da área de comentários do Blog do Noblat, e culminando com estes tempos de Twitter e Facebook, são sempre os mesmos malditos erros.

Se ao longo de uma década relutei para escrever um post assim foi porque há, nesta atitude, um erro estratégico: ele torna públicas as nossas mazelas, fornecendo aos nossos adversários políticos um guia seguro para sermos, mais uma vez, derrotados.

Mas ontem foi um divisor de águas. Ontem, enquanto boa parte da militância oposicionista espontânea acertadamente comemorava a prisão dos petistas mensaleiros nas redes sociais, aquela outra parte – tão ruidosa quanto insidiosa - voltou a errar. De repente, parecem ter cansado de capitalizar a derrota petista e começaram, mais uma vez, a fazer mea-culpa da oposição publicamente. “Onde está a oposição, que não se pronuncia?”, perguntavam os asnos, sem nem ao menos se questionar sobre os motivos para que nenhum político, além dos petistas, estivesse se pronunciando naquele momento.

A pressão cresceu a tal ponto que, provavelmente para não deixar essa gente sem uma resposta, Aécio Neves se obrigou a postar no Facebook a mesma nota que postara no dia 14, quando o julgamento do mensalão chegou ao fim. Uma solução suíça para uma armadilha desnecessária, armada não por petistas, como seria de se esperar, mas por gente que se diz de oposição.

Tamanha ignorância me autorizou a publicar este post. Porque se é verdade que as últimas três campanhas presidenciais tiveram erros estratégicos, também é verdade que a militância da internet – seja ela espontânea ou não – tem uma grande parcela de contribuição nas derrotas que amargamos.

Querem fazer mea-culpa da oposição publicamente? Então vamos lá. Como diz o velho ditado, comecem olhando para os vossos próprios rabos, macacos.

Descubra, abaixo, quais são os erros que talvez você esteja cometendo e tente não repeti-los. Se tal coisa não for possível, lembre-se de nunca mais falar mal da oposição. Porque se comete estes erros, você, meu caro, é uma parte bem ruim dela. 

E, antes de se ofender e começar a recitar um mimimi na área de comentários deste post, leia meu batom: estes são erros que você jamais verá um petista cometer na internet.

1. Não entender o papel da internet nas campanhas. 
Internet não decide eleição, mas forma opinião . O que se fala na internet não enche urna. A TV e o corpo a corpo ainda são fundamentais. Por outro lado, cada vez mais a internet cumpre um papel importante– principalmente enquanto a campanha efetivamente não começou – que é o de plantar conceitos, positivos e negativos, que podem colar no candidato. Para você entender bem o seu tamanho: você não é grande o suficiente para garantir a vitória de um candidato. Mas é grande o suficiente para manchar a imagem dele. Lembre-se disso antes de abrir a boca nas redes sociais e dizer bobagens.

2. Não entender o papel de cada um na internet.  
Há coisas que, por questões institucionais ou simplesmente em função de estratégia, um candidato não pode fazer. É justamente por isso que você é importante – para fazer o que ele não pode fazer. Você pode, por exemplo, trollar Dilma e o PT à vontade por conta da suposta espionagem americana. O candidato não. Para ele é uma arapuca discursiva – pode acabar sendo acusado, com propriedade, de antipatriotismo. Fazer oposição na internet é assim: valorizar o que o candidato da oposição diz e ficar na moita sobre o que ele não diz – porque há coisas que você não tem capacidade para entender. O tamanho da sua importância como voz oposicionista tem a ver com o tamanho do seu engajamento às palavras de ordem de quem está comandando o partido e/ou a aliança oposicionista. É assim que os petistas fazem. E é por isso que eles ganham eleições.

3. Criticar publicamente a estratégia da oposição
Já falei sobre na introdução do post, mas é preciso repetir. Você acha que a oposição e/ou o candidato estão no rumo errado? Escreva um e-mail para ele, participe de um grupo de discussões fechado do partido e dê voz lá às suas ideias. Procure o diretório da sua cidade, peça uma reunião com o presidente municipal do partido e mande ver. Mas, a menos que você seja um especialista da área e saiba, exatamente, como fazer tal coisa sem causar danos, jamais critique publicamente a campanha, ou as atitudes do seu candidato. Você vai desestimular pessoas que não entendem muito de política, mas que estavam começando a gostar dele - e, o que é pior, vai fornecer munição para os petistas.

4.Chorar, em público, porque o seu pré-candidato não emplacou. 
Este erro é uma especialidade tucana e já escrevi bastante sobre ele.  Lembre-se: quando Lula decidiu que a candidata seria a improvável Dilma, você não viu nenhum petista chorando Palocci, ou criticando publicamente a escolhida. E é assim, aderindo imediatamente ao nome escolhido, que os petistas têm derrotado você ao longo de uma década. Trazer as guerras internas partidárias para a internet é um jogo de perde-perde. Mesmo quando os próprios pré-candidatos estão publicamente em conflito, ou quando seu colunista político predileto insiste em desancar o candidato da vez, funcionar como alto-falante deste conflito é um erro primário. Simplesmente porque você perde tempo agredindo um candidato da oposição ao invés de conquistar apoios para ele. Quando a campanha começar, se você realmente for de oposição, vai ficar correndo atrás da máquina para buscar estes apoios. Não brigue com a realidade. Está insatisfeito com a escolha partidária? Discuta o tema internamente. Você está muito contrariado? Então fique quieto hoje para não se arrepender no ano que vem.

5. Ficar falando só com o seu clubinho. 
Ele só tuíta e posta no Face para impressionar os amiguinhos. É técnico em enfermagem, professor, ou engenheiro, mas quer impressionar a turma com o seu nível de politização. Ok, só que isto não é fazer oposição na internet. Fazer oposição na internet é tentar sair do seu círculo de relacionamento e atingir o maior número possível de pessoas. Isto só se alcança com: popularização da linguagem, cordialidade com possíveis aliados, e – olha que espanto! – falando bem do candidato potencial. Não um massacre panfletário, com cara de campanha, que mais espanta do que conquista seguidores. Apenas deixe claro que você é de oposição e apoia o candidato que a representa. Não precisa concordar com tudo o que ele diz. Mas esqueça as diferenças e exalte as ideias que você tem em comum com ele.

6. Ser uma matraca eleitoral. 
É quase um subtipo da categoria anterior - e, não raro, trata-se de um militante filiado ou de um assessor parlamentar. Embora não seja nocivo, porque só tece elogios ao candidato da vez e desempenha um papel de mobilização importante junto à militância oficial, este tipo também não conquista muita coisa fora das fileiras partidárias. Ele passa os dias falando de política e é incapaz de postar um conteúdo mais leve – sobre humor, futebol, novela. Tudo nele é militância. Soa falso. E, por isso mesmo, ele é incapaz de conquistar quem precisa e pode ser conquistado: a maioria das pessoas – aquelas que não ligam muito para política, mas que passarão a consultar suas timelines quando se aproximar a hora de votar.

7. Ser um inocente útil a serviço do PT. 
Não raro ele tem um passado à esquerda, tendo aderido à oposição depois de se decepcionar com Lula. Não é agressivo e gosta de pensar em si mesmo como um democrata.  Em sua TL você vai encontrar militantes petistas, psolistas, verdes e comunistas – toda essa gente que, na hora do pega pra capar, acaba votando no candidato PT.  Mas ele perde horas em debates com estas pessoas – talvez uma nostalgia dos tempos de militância na esquerda - na ilusão de que poderá fazê-las mudar de opinião. E, enquanto faz isso, vai lhes concedendo, vitrine, espaço e um tempo precioso – que poderia ser usado para buscar gente que realmente pode mudar de opinião e votar contra o PT. Este grupo inclui aqueles que olham, com carinho, para pseudo oposicionistas como, por exemplo, Marina Silva. Alegando que a candidatura dela é importante para garantir um segundo turno, o pobre idiota não se dá conta de que não precisamos dela para garantir um segundo turno em 2006 – e que o segundo turno de 2014 estaria mais folgado se ele estivesse, desde já, trabalhando pelo candidato que é, de fato, o representante da oposição.

8.Ser um boçal elitista. 
Ele já perdeu três eleições vomitando a mesma ladainha e segue insistindo. De um modo geral, estes são indivíduos que não produzem muito conteúdo na internet. O negócio deles é  divulgar e, principalmente, fazer  a crítica do que os outros produzem. Procuram manter certo distanciamento cult de “tudo o que aí está” e não raro ridicularizam aqueles que têm candidato e acreditam que vale a pena tentar uma vitória. No entanto, a despeito da sua inutilidade, seguem se autointitulando “oposição”. Não são. Sua atitude derrotista, quando não amorfa,  tem favorecido, ao longo de uma década, a eleição de candidatos do PT. Neste grupo estão incluídos aqueles que gostam de falar de política, mas fazem cara de nojinho para militância pró-ativa, os que cogitam o voto nulo e os que questionam a inviolabilidade das urnas eletrônicas. Em termos de campanha política na internet, esta é uma gente que trabalha voluntariamente para o PT.

9. Ser um direitinha xiita – ou um petista de sinal invertido.  Para eles, o candidato de oposição ao PT nunca está suficientemente à direita. É uma gente que, a despeito da arrogância, desconhece o papel da conjuntura num cenário político, a influência de uma década de governo de esquerda na bagagem cultural do eleitor brasileiro e, principalmente, um elemento básico da política: a negociação. Querem simplesmente tirar o PT do poder – mas, a julgar pela atitude, não têm ninguém para colocar no lugar. É fácil identificá-los: tão agressivos quanto os petistas, eles xingam e ridicularizam membros da oposição que ousam, vejam só!, apoiar o candidato da oposição. Dedicam parte do tempo a xingar o PT de um jeito que nenhuma pessoa decente pode levar à sério. E o pior: também plantam constantemente, a ideia de que “não há oposição no Brasil” e de que “PT e PSDB são exatamente a mesma coisa – uma teoria da conspiração típica de certo filósofo autoexilado que este grupelho idolatra. Nocivos, eles passam dias inteiros na internet desarticulando e desmobilizando a oposição possível enquanto se autoproclamam a “única oposição verdadeira”. Se é verdade que o PT tem ativistas infiltrados na oposição, todos os indícios apontam na direção desta gente.

Caso você tenha se identificado com alguma das atitudes listadas acima – ou mais de uma, já que elas admitem sobreposição – saiba que você é livre para continuar errando. Mas pare de se iludir sobre estar fazendo oposição na internet.  Porque, para começo de conversa, você nem sabe o que é fazer oposição. E é por isso que vive perdendo para o PT.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Problemas no paraíso: Marina, Eduardo e a arte de unir as semelhanças

Pelo jeito, já começaram os problemas no paraíso.

Matéria de hoje da Folha de S. Paulo  dá conta de que as diferenças entre Eduardo Campos e Marina Silva começam a se sobrepor à imagem de total integração, construída artificialmente - e às pressas -  no início de outubro:

"A discordância ocorreu em um encontro há uma semana, véspera do ato em que PSB e Rede Sustentabilidade, o partido de Marina, começaram a discutir as bases para construir um programa único das duas forças políticas." (Clique aqui para ler na íntegra)

Embora  tenham começado um pouco antes do que se imaginava, os problemas eram mais do que previsíveis.A aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos nunca foi algo natural - a despeito do frisson de maior parte da imprensa, que vendeu a coisa como uma promissora novidade.

Ainda que ambos comunguem de um passado junto ao petismo, ainda que ambos tenham se mantido fiéis a Lula depois do mensalão, as semelhanças terminam aí.

Marina, a despeito da aparência dócil e supostamente democrática, sofre de um radicalismo que não lhe permite diálogos - basta lembrar a vasta lista, nascida nos primórdios da sua fundação do tipo de empresas cujas colaborações financeiras não seriam aceitas pela Rede. O termo "sonhático" grifado por ela não é mais do que um eufemismo para uma postura radical que, para ficar apenas no exemplo mais recente, fez estragos durante sua meteórica passagem pelo Partido Verde. Marina não dialoga. Prega. E com aquele tipo de fervor de quem apenas faz de conta que ouve seu interlocutor porque, na verdade, já vem para o diálogo sem a menor intenção de ceder. O radicalismo é traço forte da personalidade de Marina Silva.

Eduardo Campos é um político pragmático e experiente, do tipo que faz alianças com quem lhe permita atingir seus objetivos - e não é do tipo que rejeita apoios com base em princípios subjetivos. Dizem que é bom ouvinte, bastante flexível e que costuma escolher com cuidado suas batalhas - envolvendo-se apenas naquelas dais quais possam sair com alguma vantagem concreta. Se retirou-se outro dia da base do Governo Federal foi porque sentiu, a despeito de suas remotas chances pessoais,  que a permanência do PT no poder pode estar ameaçada. O pragmatismo é traço forte da personalidade de Eduardo Campos.

A imprensa sempre soube destas naturais diferenças entre Campos e Marina. Apenas comportou-se feito convidada elegante em um casamento de fachada, feito na correria: brindou e aplaudiu, evitando perguntas incômodas. Talvez tenha preferido acreditar que as diferenças seriam complementares. Ou simplesmente encantou-se com a beleza de festa.

Passada a lua de mel, eis que temos a realidade a atropelar o sonho. Primeiramente porque traços predominantes de personalidade são a matéria prima mesma da política - impossível prescindir deles. Depois porque em política personalidades muito diferentes não se complementam; entram em conflito. Finalmente porque a política é arte de unir as semelhanças - e não as diferenças.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Aula de oposição: como Aécio encurralou Dilma e a fábrica de boatos do PT

Aécio Neves: oposição como não se via há uma década.

Aécio Neves apresentou nesta quarta-feira um projeto de lei que transforma o Bolsa Família em um programa de Estado. Pela proposta, o benefício, que tem sido a principal bandeira eleitoral do PT, se torna permanente, ficando atrelado às políticas públicas de assistência social e erradicação da pobreza no país – e, o que é mais importante, não ficará mais à mercê das decisões do Executivo.

É uma jogada de mestre. Com um único projeto, o senador mineiro dá segurança ao eleitor sobre a continuidade do programa, tira de Dilma seu principal argumento eleitoral e, de quebra, destrói antecipadamente a poderosa fábrica de boatos do PT. Graças à estratégia de Aécio, os petistas acabam de acordar em um cenário eleitoral diferente, no qual não é mais possível disseminar - como fizeram, incansavelmente, em 2006 e 2010 -  a mentira de que os tucanos querem acabar com o Bolsa Família. 

Independentemente do intrincado percurso parlamentar que o projeto de Aécio deve seguir até sua votação, a simples apresentação é uma vacina poderosa contra a boataria petista. E coloca Dilma numa arapuca discursiva sem precedentes.

Se orientar sua base a votar a favor do projeto de Aécio Neves, Dilma estará pactuando com a perda de seu mais importante argumento eleitoral. Por outro lado, se orientar sua base a votar contra, ou mesmo a protelar a votação, a presidente vai entregar a Aécio um tesouro: o discurso de que ele quis eternizar o programa, mas Dilma o impediu.

Não é de hoje que venho elogiando a visão estratégica e a capacidade de articulação política de Aécio Neves.  Mas confesso que, com essa, o mineiro voltou a me surpreender.  Aécio está dando uma aula do que é fazer oposição – coisa que o país não via há quase uma década